" Certo homem de bom coração encontrou na estrada uma cobra entanguida de frio.
Tomou-a nas mãos, conchegou-a ao peito e trouxe-a para casa. Lá a pôs perto do fogão.
- Fica-te por aqui em paz até que eu volte do serviço à noite. Dar-te-ei então um ratinho para a ceia. E saiu.
De noite, ao regressar, veio pelo caminho imaginando as festas que lhe faria a cobra.
- Coitadinha! Vai agradecer-me tanto...
- Coitadinha! Se fica por aqui ao relento, morre gelada.
Agradecer, nada! A cobra, já desentorpecida, recebeu-o de linguinha de fora e bote armado, em atitude tão ameaçadora que o o homem enfurecido exclamou:
- Ah, é assim? É assim que pagas o benefício que te fiz? Pois espera, minha ingrata, que já te curo...
E deu cabo dela com uma paulada."
"FAZEI O BEM, MAS OLHAI A QUEM."
MONTEIRO LOBATO, Fábulas. 21.a ed. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1969..144
Imagem: retirada do Google
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