"Pe. Héber de Lima foi capelão no leprosário de Fontilles, Espanha.
E ele descreve um episódio que marcou sua vida.
- Era de tardinha. Depois de atender os meus leprosos, saí para espairecer um pouco e rezar o terço.Meu caminho passava diante da capela do leprosário. Entrei e ajoelhei-me. Na penumbra do santuário percebi que lá na frente havia alguma coisa. Os contornos foram se definindo e, finalmente, não havia mais dúvida: era uma mulher ajoelhada e com os braços em cruz! Aquilo mexeu comigo. Parei de rezar o terço e fiquei olhando aquele espetáculo, sobre o qual todo o céu deveria estar debruçado. Os dois braços pareciam terminar em mãos fechadas. Eram mãos sem dedos... Eram mãos leprosas... E estavam em cruz! Como se a lepra não fosse uma cruz para aquelas mãos. Como se a pobre mulher já não fosse crucificada. De vez em quando os braços caiam para um breve descanso; depois subiam de novo...
Lembrei-me de Moisés no alto do monte. Só que o velho patriarca tinha dois homens - Hur e Aarão - para segurar-lhe os braços. A mulher estava só, crucificada na sua lepra, como uma esplêndida projeção, em carne e osso, da cruz de madeira que estava no fundo da capela...
Senti uma vontade enorme de trazer o mundo inteiro para dentro daquele pequeno templo, perdido num recanto da Espanha. Especialmente o mundo elegante e vazio, que vende a alma ao conforto e à beleza do corpo...
Depois da comoção, comecei a sentir vergonha. Vergonha de mim mesmo e pelo mundo. Pelos homens e mulheres do meu tempo. Vergonha por ver que nós pecadores não fazemos a penitência, de que precisamos..."
De Roque Schneider, em sua obra "ESTÓRIAS QUE RECOLHI"
Imagens doGoogle
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