Certa formiga bastante orgulhosa passeava na sala de uma casa onde fizera sua morada, achando que era ali o Universo. E assim vivia a suspirar extremamente vaidosa e feliz pelo espaço que ocupava dentro da casa. Estando pra lá e pra cá num certo cantinho, indo e vindo todo o tempo quando estava sozinha, colhendo tudo o que podia comer... não se dava conta do mundo grande e bonito que havia fora dali, porém certo dia começou a sentir-se solitária, comparando-se às pessoas da família que residiam na casa, achando o quanto seria muito bom ter uma também...
Após um Inverno causticante que a todos abatera, tanto pessoas como animais e coisas, chegou o período primaveril. E logo no seu primeiro amanhecer, uma brisa suave, mas arrebatadora, invade a sala onde vivia a nossa formiguinha e junto com ela uma borboleta linda, frágil e multicolorida recém-saída de seu casulo, que movida pela forte correnteza do ar, também ali adentrou, sobrevoando o local. A formiguinha surpresa, falou o mais alto que sua vozinha fraca permitiu:
- Quem é você e o que faz aqui no meu mundo?
- Bom dia! Bons ventos me trazem! Oh, queridinha sou uma borboleta! E pra seu governo, o meu, o nosso mundo e o Universo extrapola esse pequeno espaço que, ka, ka, ka!... É pra rir de você mesmo! Pois, aqui pra nós, não acha que seu mundo é pequeno demais, hein?
- Você está brincando é? Eu nem lhe conheço, como se atreve a se dirigir assim comigo?
- Não seja orgulhosa! Apesar de eu ter recentemente saído do casulo, já vi a sua família por aí. Ela é muito grande e há muitas espécies... Estudei um pouco a Natureza sobrevoando o grande espaço que existe lá fora. Eh! Acho que quem está brincando é você, amada! Ah! Essa eu não aguento ka, ka, ka!... Brincadeirinha mais sem graça essa!
E a formiga, muito séria falou novamente:
- Eu não estou brincando. E você? Se não está, então me ajuda a conhecer seu universo que, dizendo você, é maior do que esse que eu já conheço!
- Não estou, queridinha! Veja bem. Aí fora tem um lindo jardim perfumado por muitas flores multicoloridas como as minhas asas.
- O' criatura... Como se chama mesmo você, "bobuleta", né?
- Hi, hi, hi... Tá toda errada essa formiga folgada. Eu me chamo b o r b o l e t a, entendeu? Mas continua...
- Pois é senhorita "bor-bo-le-ta", aqui perto de mim, tem um vaso cheio de flores muito bonitas. Olha só! Disse apontando à mesinha da sala.
- Sei amiga formiga! Mas elas são de plástico. São feitas pelos seres humanos, e embora bonitas e com certo valor, não têm perfume algum e é um punhadinho de nada de flores! E chega de tanto blá, blá, blá! Confia ou não confia em mim? Sai desse canto soturno, ermo e sem terra! Só falta usares sapatos!Aproveita a fresta da porta! Olha o sol entrando e sai um pouco! Experimenta, anda, vai coisa chata e teimosa!
E assim aconteceu. A nova amiga da borboleta resolveu acreditar nesta e sair para conhecer um mundo nunca antes desbravado por ela. E diante do grande espaço que visualizou, deslumbrou-se e caminhando, caminhando foi também encontrando diferentes espécies de formigas que a cumprimentavam, agitando-se nos canteiros desativados.E dizia de si para consigo: - Chi!!! não é mesmo que ela tem razão!!! E onde tá para que eu agradeça?
Tarde demais! Nossa borboleta enfadada, foi embora naquele instante mesmo. Havia cometido a melhor "boa ação" de sua vida. Estava em paz! E contente, lá foi espaço a fora, piruetando no ar,. e entre uma e outra flor, beijava algumas... tal qual meninos na porta da escola.
Enquanto ali, no solo fofo, nossa personagem formiga se deslumbra diante da terra nunca antes pisada por ela e reconhecendo irmãos seus que nunca tinha visto nem pensado ter fora da sala daquela casa rica em que habitara durante um Inverno.
Aut.: Sônia Lúcia
Obs.: A autora, todos os direitos.
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