Venho cá prosear um causo contado pelo caboclo Bastião nascido em cidade grande, mas circunstâncias da vida fizeram com que se criasse na roça desde que era molequito, enrolado nos panos logo ao nascer, indo lá pro interior no Norte do Brasil. Aí nosso Bastião cresceu taludo e "bunito", afeiçoando-se grandemente pelas coisas do lugar: seus rios, floresta, clima, "custumes" todos dali. E de maneira "arguma" quer sair pras bandas da cidade grande. Como ele fala.
E como não pode deixar de ser, nosso personagem conhece inúmeros causos que fica sabendo, e até vivenciado por ele mesmo. E entre esses, conta um da Matinta Perera. A lenda mais discutida pelos moradores, divergindo um pouco entre um ou outro contador.
Vamos então ao "fato" mais contado por Bastião:
"- Certa vez, eu inda era pirralhinho saído pouco tempo dos cueiro, mas já começava a olhá minina. E fui engraçar logo da mais linda. A que morava no povoado vizinho. Daí proveitei um domingo, hora da Missa. Minha famia se prontava e eu embromava pra me escondê de todos e não ir. Roupa novinha, cherozo, todinho rrumado saí pra festa que ia ter lá naquele lugarejo. Ela ia tá lá! Eu sabia! Ninguém me viu sair. Travessei roçado, pequena foresta... e muito nervoso; tinha que dá certo!
Lá, a mina nem me deu bola e eu atrás, pouco discreto, tabulava conversa. Vezes disfaçava. Até inventei ser filhado de um fazendeiro rico: seu Nhonhô. E a mãe dela só me olhando de longe. A princesinha nem ligava pro que eu dizia, só piscava e me cutucava e eu num atentava... Mal sabia eu que o povo dali tinha a mãe dela como D. Matinta. A menininha deu um jeito de se sair sem que eu visse. Percurei, percurei e nada! Lá pelas tantas, vi as horas. Com medo de uma sova, resorvi ir bora, mas a véia já se perparou pra me sustá. Noite de Lua grande, a claridão ajudava a ir ligeiro. De repente vi aquele bicho com asa muito grande e preto, parecido urubuzão; voava bem pertinho da minha cabeça. Piava que nem bicho doido! Tremia todo de medo! Me sujei todinho de lama! Lá se foi roupa nova! Cheguei em casa quando me procuravam. Passei direto por todos. Tremendo que nem varinha verde, e todo sujo e borrado nas carça! E o bicho bateu as asa com força, voando desimbestado pra longe! Notro dia, num falaram notra coisa... Diziam que era um Rasga-mortalha. D. Matinta se transformou no bicho, como d'outras vezes.
Querem saber do resto? Apanhei uma surra com a roupa borrada e nunca mais vi a mina! Kkkk..."
Autoria de Sônia Lúcia
OBSERVAÇÃO:
A história, ou melhor, o "causo" acima, tem a minha autoria em toda a sua totalidade. Não havendo, portanto, cópia de nenhuma obra já existente (completa ou parcial). Tendo como estímulo meu próprio dom e criatividade, cultivados no meu dia-a-dia por toda essa vida.
Meus agradecimentos aqueles que, de alguma forma, me incentivaram e incentivam hoje, a continuar na persistência de realizar o meu sonho em conseguir meus direitos autorais totalmente legalizados, para assim ser possível a publicação de, pelo menos, um livro meu, lançado no mercado.
Obrigada!!!
NOTA:
O conto que acabei de criar tem como principal característica, a linguagem caboclês própria dos "causos" (que são normalmente, histórias com veracidade duvidosa contadas e recontadas pelo povo). Além de propiciar ao leitor um pouco de humor, a fim de torná-lo mais atraente.
É preciso que o caro leitor(a) saiba também, que possuo nesse blog 285 postagens aproximadamente, até a presente data. E dentre elas, 53 histórias, são de minha total autoria, até hoje publicadas (incluindo: contos fictícios, fábulas, etc. para adultos e/ou crianças).
"CAUSO DO BASTIÃO" é a minha primeira criação lendária, também fictícia. Por isso, talvez, possua algumas falhas no que se refere à mistura de dialetos.
Imagem do Google apenas com fins ilustrativos.